Afinal São Pedro gostou da bravura dos caminhantes, a quem um céu cor de chumbo não assustou.
É
verdade que choveu e muito até à hora de começar o passeio, mas depois
os guarda-chuvas desempenharam a sua função secundária de bengala e
deram bastante jeito nas partes mais íngremes e pedregosas do caminho,
ou seja quase todas...
Fomos acolhidos por um sabugueiro logo no
inicio do nosso encontro e podiamo-nos ter ficado quase por ali, pelo
estacionamento, pois abundava a morugem, agarra-saias, São Roberto,
malvas, parietária...mas o topo da colina com vista para o mar e muitas
outras plantas interessantes, esperava pelos nossos olhos atentos.
Calêndulas
ladeavam a ladeira em salpiquinhos amarelos ainda gotejantes, pérolas
brancas de cistus, aqui e acolá, violetas assomavam tímidas por entre a
folhagem tentando perceber aquela invasão repentina de botas de borracha
ameaçadoras.
Entre os penhascos brotavam delicados florzinhas roxas de grandes estames amarelos, eram os crócus.
Lírios mínusculos, silenes, rosmaninhos, quase, quase, quase em flor....
O azulão da erva-das-sete-sangrias ia pontuando a paisagem em comunhão com o céu e o mar.
Encontramos urtigas dioicas perto da fonte, colhemos algumas para o jantar e bebemos água de nascente.
Tivemos dúvidas, tiramos dúvidas,espreitamos a intimidade de muitas plantas, comemos muitas folhas e flores de mostarda, sentimos o frio do vento do norte, contemplamos o céu e o mar, e alegramo-nos ao perceber que estávamos vivos e em harmonia com a força destes elementos.